Número total de visualizações de páginas

domingo, 7 de agosto de 2011

Esta senhora diz o que quer e o que pensa não é jornalista do JORNAL DA MADEIRA. Muitos parabéns pela atitude.

A origem de tudo

Às vezes, é preciso lembrar como é que tudo isto começou para perceber para quê que tudo isto serve

Ana Cristina Pereira, Jornalista do Público
 
 
 
A minha alma ficou pasma. Não devia, eu sei. Mas tenho uma capacidade desmedida de acreditar, o que quer? Sabe aquelas raparigas que se apaixonam sempre como se fosse a primeira vez?
Primeiro, ligou-me o secretário da vereação. Depois, ligou-me o presidente da Câmara. Tornou a ligar-me o secretário da vereação. Tornou a ligar-me o presidente. "Não. Não posso mudar de convidado, posso mudar de sítio."
Convidara o director do Diário de Notícias da Madeira em Dezembro. Estava alguém preocupado com quem iria apresentar um livrito sobre cultivo, consumo e tráfico de cocaína? Não sonhava que a crispação por aí fosse tanta que o PSD nem desse credenciais ao Público, ao DN de Lisboa, ao DN da Madeira e à TSF para a sua festa na Herdade do Chão da Lagoa.
Quem governa a ilha parece ter esquecido que os jornalistas devem exercer um controlo independente do poder. É isso, o "watchdog", que faz do jornalismo um bastião de liberdade.
Há muitos anos, tantos que Alberto João Jardim não era presidente do governo regional, não havia jornais. Só as classes privilegiadas sabiam o que se passava nos bastidores do poder. O povo tinha apenas acesso a mensagens oficiais trazidas por arautos e a bilhardices de origem mais ou menos secreta. Por essas terras galgavam a propaganda e o rumor. E delas se fazia opinião.
Às vezes, é assim. Às vezes, é preciso lembrar como é que tudo isto começou para perceber para quê que tudo isto serve.
O fundamento do jornalismo é a busca (desinteressada) pela verdade. Os jornalistas têm o dever de (bem) informar porque os cidadãos têm o direito de estarem (bem) informados. Só com informação independente podem realmente participar nos destinos do seu município, da sua região, do seu país. Isto é bê-á-bá de jornalismo. Aliás, isto é bê-á-bá de democracia.
Pode o leitor apontar jornalistas que servem interesses obscuros? Também posso apontar, sei lá, bombeiros incendiários e médicos homicidas. Nem por isso a função dos bombeiros deixa de ser apagar incêndios ou a dos médicos salvar pessoas. Estou como Thomas Jefferson, terceiro presidente do EUA: "Se tivesse que decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não vacilaria um instante em preferir o último."
Não sei em quem vota o Ricardo Miguel Oliveira. Não me interessa. Sei que apresentará o meu novo livro, "Viagens Brancas", às 18 horas do próximo dia 24. Não na Câmara de São Vicente, como previsto; no Quebra-Mar, um belíssimo restaurante do Calhau. Seja bem-vindo quem vier por bem.

Sem comentários:

Enviar um comentário